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em
se passeia Bernardo
pela ribeira d` Hungria;
duzentos cavalos leva,
todos ganhara num dia.
Bem o mirava seu tio
da sala onde dormia.
-Ó Bernardo, ó Bernardo,
a terça parte era minha.
-Tome-os todos, meu tio,
que para mim eu ganharia.
-Houlá, houlá, ó Bernardo,
não botes tal fantasia,
que o que se ganha num ano
logo se perde num dia.
-Aqui falta Oliveiros,
a saber dele quem iria?
-Irás tu, ó meu Bernardo,
escusa não haveria.
-Como irei eu, meu tio,
homem a quem eu não queria?
-Tens d` ir tu, ó Bernardo,
escusa não haveria.--
Montado no seu cavalo
a saber d` Oliveiros ia.
Encontrou-o descansando
à sombra da verde oliva,
com a casca da laranja
curando uma mortal ferida.
-Quem te feriu, Oliveiros,
quem te fez essa ferida?
-Deus te defenda, Bernardo, de quem me fez esta ferida.
Foi o mouro maioral
que lá na Mourama havia.
Sete palmos tem d` espada e três de cara
estendida;
montado no seu cavalo
parece uma torre erguida.
-Quem me dera ver tal mouro, que eu com ele batalharia. --
O mouro, que o ouviu,
d` alta torre onde vivia:
-Correrei atrás de ti
catorze léguas num dia.
-De correr trás de Bernardo,
mouro, eu te livraria.
O ferires a Oliveiros
não foi grande valentia;
tem dezesseis anos de idade, da guerra nada
sabia.
-Quem na cara me desmente ao campo
me desafia.--
Deu-lhe uma espadagada,
o coração lhe partia.
-Mal o hajas tu, Bernardo,
mai` la tua fantasia!
Tu mataste o maior mouro que lá na Mourama havia.
-Se matei o maior mouro,
isso era o que eu queria;
corre agora após Bernardo catorze léguas num dia.- |
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